O recente episódio envolvendo o Governo Federal e a proposta de ampliação do monitoramento sobre operações com cartão de crédito e Pix é um exemplo claro de como a falta de uma comunicação eficiente pode desestabilizar o debate público e criar ruídos desnecessários. O que deveria ser uma discussão técnica acabou se tornando um espetáculo de desinformação, amplificado pela confusão de mensagens e pela velocidade das redes sociais.
Se num passado recente, para bom entendedor, meia palavra já bastava, no mundo de hoje, essa ideia já não se sustenta. Meias palavras, quando soltas nesse caos digital, tornam-se meias verdades - e meias verdades, nas redes sociais, podem ser mais perigosas do que mentiras completas, por isso, é rídiculo confiar que uma mensagem técnica ou política será entendida de forma unívoca. O ambiente de hiperconexão digital exige clareza absoluta e transparência total, sob pena de perder o controle da narrativa, como ocorreu nesse caso.

Nesse contexto, a reação do Governo, ao recuar na proposta sem dar explicações convincentes, deixou mais perguntas do que respostas:
- Se a medida era tão necessária, por que a decisão de voltar atrás?
- Como o Governo pretende recuperar a confiança e reconstruir a narrativa?
- Até que ponto a comunicação mal planejada foi responsável pelo desgaste?
O que se viu foi um governo que, diante do impacto negativo, atacou as interpretações divergentes as rotulando como fake news. Mas é preciso reconhecer que boa parte deleas surgiram da própria falta de habilidade do Governo em apresentar a medida de forma clara e acessível. No lugar de abrir o diálogo e esclarecer dúvidas legítimas, o discurso oficial apostou na polarização e na simplificação do problema, perdendo a oportunidade de construir pontes.
Nesse mundo onde tudo é fake news, qual é o lugar da verdade? Quando o próprio Governo, que deveria ser a fonte de estabilidade e informação confiável, se perde em declarações desencontradas, como esperar que a população consiga diferenciar o real do falso?
A verdade, nesse caso, não é só sobre os fatos, mas sobre a confiança. E confiança se constrói com clareza, transparência e disposição para ouvir – elementos que faltaram em todo esse episódio. Se a ideia era ampliar o monitoramento financeiro para fortalecer políticas públicas ou combater irregularidades, o fracasso em comunicar os objetivos de forma simples e direta gerou ruídos que poderiam ter sido evitados com planejamento.
Mais do que nunca, a comunicação não é apenas uma ferramenta auxiliar: ela é o meio pelo qual a política se torna compreensível e legitimada. Sem ela, não há medida técnica que resista ao crivo da opinião pública.
Joab Freire
Jornalista formado pela UEPB
Pós em Comunicação Pública, Comunicação Política e Comunicação Institucional e Redação Oficial
Editor do Bem Paraíba
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